E-RESENHAS

19 fevereiro 2007

Metodologia Científica aplicada à Teológica

RESENHA
Ashbell Simonton Rédua [*]

LOPES, Edson Pereira. Metodologia científica aplicada à Teologia: Apostila das Aulas. São Paulo, 2006.

Trata-se, tão somente, de uma ajuda para consulta por parte dos estudantes dos cursos de graduação, podendo também contribuir aos estudantes de pós-graduação. Qualquer aprofundamento teórico ou prático deverá ser buscado na bibliografia sugerida pelo autor da apostila.
A intenção do autor foi apenas facilitar a busca dos estudantes no que diz respeito aos trabalhos de pesquisa acadêmica. A estrutura deste trabalho, por si só, serve de modelo para um trabalho realizado em sala de aula. Além disso, procurou-se apresentar e explicar as regras para cada parte de um trabalho científico.
Baseados em observações próprias, sem conotação científica, notamos que a disciplina de Metodologia Científica é uma das mais rejeitadas pelos estudantes em praticamente todos os cursos de graduação. É, mais ou menos, como o velho chavão do "odeio matemática", mesmo que a matemática não seja tão terrível assim.
A Metodologia Científica Aplica a Teologia é iminentemente prática e deve estimular os estudantes para que busquem motivações para encontrar respostas às suas dúvidas. Se nos referimos a um curso superior estamos naturalmente nos referindo a uma Academia de Ciência e, como tal, as respostas aos problemas de aquisição de conhecimento deveriam ser buscadas através do rigor científico e apresentadas através das normas acadêmicas vigentes.
Dito isto, parece que fica claro que metodologia científica não é um simples conteúdo a ser decorado pelos alunos, para ser verificado num dia de prova; trata-se de fornecer aos estudantes um instrumental indispensável para que sejam capazes de atingir os objetivos da Academia, que são o estudo e a pesquisa em qualquer área do conhecimento. Trata-se então de se aprender fazendo, como sugere os conceitos mais modernos do trabalho científico.
Procura-se, seguir rigorosamente as regras definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, para elaboração de trabalhos científicos.
A presente obra procura não dificultar as questões que envolvem a elaboração de um projeto e o relatório da pesquisa, portanto pode ser entendida como uma facilitadora da aprendizagem, onde os estudantes poderão consultar, a qualquer hora, para suprimir suas dúvidas quanto aos procedimentos, técnicas e normas de pesquisa.
Quando fala-se de um curso superior, esta-se referindo, indiretamente, a uma Academia de Ciências, já que qualquer Faculdade nada mais é do que o local próprio da busca incessante do saber científico. Neste sentido, esta disciplina tem uma importância fundamental na formação do profissional. Se os alunos procuram a Academia para buscar saber, precisamos entender que Metodologia Científica nada mais é do que a disciplina que "estuda os caminhos do saber", se entendermos que "método" quer dizer caminho, "logia" quer dizer estudo e "ciência" que dizer saber.

Palavra-Chave: Metodologia Científica, Pesquisa Científica, Monografia, Resenha, Estudo de Caso, Análise Crítica.

[*] Rev. Ashbell Simonton Rédua, é pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai, conferencista e escritor.

O Conforto do Conservadorismo


RESENHA
Ashbell Simonton Rédua[*]



PARKER, J.I. O Conforto do Conservadorismo. In Religião de Poder.Vários autores. São Paulo: Cultura Cristã. 288 pg (p. 231-243)

Parker explora neste capítulo inserido no Livro Religião de Poder, algo surpreendente para o conhecimento da igreja do que venha a ser o verdadeiro tradicionalismo, num contexto em que muito se discute e pouco se sabe. Por isso, podemos entender que seu pensamento extrai com fidelidade o que seja o conservadorismo ou tradicionalismo.
Assim como o autor define há dois tipos de conforto cordial no qual as Escrituras traduz o conforto com palavras, com o objetivo de fortalecer, revigorar . Há também um segundo conforto, o conforto almofada, o que faz com que as pessoas se sintam melhores, porém quando for longo este tipo de conforto, ele enfraquece e irrita em fez de fortalecer.
O autor descreve também o tradicionalismo desta mesma forma, o conservadorismo criativo, e o conservadorismo carnal. O primeiro é inteligente, é arrojado, inovador e até revolucionário, contudo é a decisão heróico de preservar algo visto na herança cultural como de real valor. O segundo é obstinado, cego, pobre e nu, bitolado, irracional e busca somente agarrar-se ao passado. Mas mesmo assim, sempre tentando, se manter dentro dos princípios teológicos já experimentados no passado e expondo idéias com extremo cuidado.
Quando não se conhece as raízes do conservadorismo, entenderá apenas como se fosse um movimento separatista, alienado tentando preservar a verdade cristã. Sob este aspecto a falsa compreensão do que é tradicional leva o crente a acomodar a fé cristã ao erro e trair o ensino bíblico como tarefa da igreja cristã de defender a fé que uma vez por todos foram entregue aos santos.
O conservadorismo criativo utiliza-se da tradição, não como autoridade final ou absoluta, mas como recurso importante colocado à nossa disposição pela providência de Deus, afim de nos ajudar a entender o que a Escritura está dizendo sobre quem é Deus, quem somos nós, o que é o mundo ao nosso redor, e o que fomos chamados para fazer aqui e agora.
Sempre há pessoas que temem, e com razão, o novo e o desconhecido. O conservadorismo deve se estender à teologia, à moral e à ética, mas não às estratégias, metodologias de trabalho e ferramentas em uso (a não ser que firam princípios Bíblicos). O temor pelo novo é justificável, desde que aliado à coragem da análise imparcial dos fatos.
Precisamos descobrir a indispensabilidade do dogma sobre a igreja, os Reformadores sempre deram prioridade à verdade.
[*] [*] Rev. Ashbell Simonton Rédua é pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai, conferencista e escritor.

CRISTIANISMO E LIBERALISMO


RESENHA
Ashbell Simonton Rédua[*]



Machen, J. Gresham. Cristianismo e Liberalismo. São Paulo: Puritanos, 2001, 181 p.

Um dos defensores mais articulados da teologia cristã ortodoxa contra as tendências do liberalismo e do racionalismo cristão na primeira metade do século XX foi J. Gresham Machen. Influenciado pela formação protestante reformada, Machen foi educado para ser pastor no Seminário Princeton (outrora um centro de calvinismo conservador), e escreveu inúmeros textos religiosos, Atormentado pelas forças do liberalismo teológico, Machen deixou seu posto como professor em Princeton e fundou o Seminário Teológico de Westminster e a denominação Presbiteriana Ortodoxa.
Sua obra mais importante sobre o problema da liberdade é este livro: Cristianismo e liberalismo, onde ele defende o Protestantismo Ortodoxo. Marchen via o liberalismo teológico e o aumento do controle estatal crescendo ao mesmo tempo e advertiu que enquanto a igreja deixasse de cumprir suas obrigações bíblicas para com os fiéis, uma lacuna seria criada e preenchida pelo Estado.
É importante observar que o autor afirma que a teologia liberal, dava ênfase ao racionalismo do século XVIII, época em que nasceu, cresceu e amadureceu. A teologia liberal afirmava, entre outras coisas, que o homem pode chegar ao conhecimento de Deus por meio da revelação geral, ou seja, através da revelação de Deus na criação/natureza, ou ainda, que o homem é capaz de chegar ao conhecimento de Deus por meio da razão. Tal compreensão do fazer teológico é característico da teologia natural, segundo a qual a base da fé é a revelação comprovada pela razão. Assim, a teologia liberal procurou sempre estabelecer teorias acerca do conhecimento de Deus, partindo de fontes como as ciências e as filosofias. Se teorias podiam levar ao conhecimento de Deus, práticas e/ou processos que expressassem essas teorias poderiam levar à salvação. E aqui entram, por exemplo, a ética e justiça social.
O único inimigo do liberalismo é a firme adesão à autoridade e suficiência das Escrituras. Lamentamos o fato de que muitos evangélicos mudaram de "pregar" para "compartilhar" a Palavra de Deus, o que sutilmente transfere a autoridade da Palavra de Deus para a experiência e opinião humanas. Tal comprometimento, além de não ajudar o incrédulo a enxergar a luz; ainda o deixa mais cego. Essa tolerância estimula a resistência dos homens em se submeterem à autoridade de Deus. O liberalismo, inevitavelmente, endurece cada vez mais contra a verdade.

[*] [*] Ashbell Simonton Rédua, pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai em Niteroi e membro da Junta Teológica da IPB.

Bartolomeu de Las Casas, um cidadão universal


RESENHA
Ashbell Simonton Rédua[*]



NASCIMENTO FILHO, Antônio José do. Bartolomeu de Las Casas, um cidadão universal: uma questão de alteridade com os povos do Novo Mundo. São Paulo: Loyola, 2005. 189 p.


Antônio José do Nascimento Filho, é um professor muito amigo e simpático, sempre atento a todos que o buscam, e, sempre de modo muito disposto. É capaz de subtrair conhecimento de várias áreas do seu saber na busca de soluções e respostas plausíveis aos seus pupilos. Possuir de um conhecimento inefável na área missiológica, não somente teórico, mas prático, sempre associando as experiências vividas no campo missionário com o conhecimento acadêmico adquirido nestes longos e preciosos anos. É mestre em Teologia pelo Reformed Theological Seminary e Doutor em Missiologia pelo Reformed Theological Seminary, em Jackson, no Mississipi, bem como o grau de Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo. É autor da obra: O Papel da Ação Social na Evangelização e Missão na América Latina, publicado pela Editora Luz para o Caminha: 1999. Atualmente vem desenvolvendo suas habilidades profissionais como educador na Universidade Presbiteriana Mackenzie e no Centro de Pos-Graduação Andrew Jumper.
A capa do livro em tons acinzentados apresenta uma escultura dos povos do Novo Mundo, Inca, Asteca, com a parte inferior em traçados avermelhados, também assemelhado as culturas dos cestos e balaios indígenes.
O autor explora bem os conhecimentos de outros autores como é indicado na fontes secundárias, tais como Leonardo Boff, Enrique Dussel, que provavelmente apontam para Las Casas como o pai da Teologia da Libertação, isto é, o primeiro clamor pela justiça no Novo Mundo. Este clamor causou muita polêmica, motivo pelo qual mais tarde Las Casas tomou partido em sua defesa. Em Tzevetan Odorov, o autor explora a obra A conquista da América: a questão do outro, partindo de questões relacionadas à democracia do tempo presente, propõe-se a buscar as origens do totalitarismo, da desigualdade e da intolerância que marcam a sociedade ocidental nesta transição de milênio.
São as fontes principais e primárias que o Prof. Antonio José do Nascimento Filho vai buscar a motivação para esta tão importante obra. As próprias obras de Bartolomeu de Las Casas e vários outros autores primários, como Gustavo Gutierrez, Manuel Martinez, Angel Losada, Jaime Concha, por sua alteridade e pelos esforços e a valorização social-cultural e antropológica dos povos indígenas (Pg 13).
O livro está dividido em quatro partes e uma conclusão. O primeiro capítulo trata-se da questão da alteridade em Colombo e nos demais conquistadores, onde o autor aborda as questões da América Latina, o que é América Latina, sua complexidade e características individuais, o fator comunicação na cultura dos conquistadores e na cultura dos conquistadores e a questão do assimilacionismo cultural.(Pg 19) A própria mídia internacional, ao focalizar a América Latina, apenas direcionam seus assuntos que servirão de caixa de ressonância positiva para suas agências internacionais. Criminalidade, violência urbana e rural, insegurança, instabilidade financeira, disparidade social, favelização dos centros urbanos. (Pg 21)
O segundo capítulo aborda o contexto histórico de Las Casas, tanto antes da expansão marítima e a conquista, o repartimiento e a encomienda.
O terceiro capítulo, trata-se de Bartolomeu como o apologística indígena, desenvolvendo o seu pensamento a proteção dos índios. Desenvolve neste capítulo aspectos da vida de Las Casas como o procurador dos índios, a bula Sublimis Deus, as Novas Leis promulgadas. (Pg 19)
O quarto capítulo reflete bem o objetivo motivacional do autor, as suas próprias experiências como Missionário entre os índios em Altamira, cidade paraense, as beiras do rio Xingu, ocasião que conheceu profundamente os problemas indígenas que não difere muito daqueles vividos por Las Casas, o papel de preservar e proteger os povos indígenes. A questão da alteridade no mundo espanhol, e porque não, no mundo atual, além de religiosa é também educacional.
O quinto capítulo, contempla a controvérsia entre Las Casas e Ginés de Sepúlveda. São levantadas questões de escravidão, guerra justa e o lugar do outro. Os mecanismos interiores da história de violência estão estreitamente ligados à tentativa de implantar o modelo europeu de civilização no Novo Mundo. Estruturas autóctones sofreram descrédito por meio do mito do progresso, pela crença no desenvolvimento e pela atitude expansionista. Critério supremo nesse processo era a pessoa branca, ou melhor o homem branco. Por ocasião da famosa controvérsia de Valladolid (1550) os eruditos discutiam se havia igualdade entre indígenas e espanhóis. Foi em vão o pleito de cinco dias que Bartolomeu de Las Casas fez em defesa dos indígenas.
Para o autor, Antonio José do Nascimento Filho, a questão principal de Las Casas, um cidadão universal, está na questão da alteridade com os povos do Novo Mundo. A palavra alteridade, que possui o prefixo alter do latim possui o significado de se colocar no lugar do outro na relação interpessoal, com consideração, valorização, identificação e o dialogar com o outro. A pratica alteridade se conecta aos relacionamentos tanto entre indivíduos como entre grupos culturais religiosos, científicos, étnicos, etc. Na relação alteritária, está sempre presente os fenômenos holísticos da complementaridade e da interdependência, no modo de pensar, de sentir e de agir, onde o nicho ecológico, as experiências particulares são preservadas e consideradas, sem que haja a preocupação com a sobreposição, assimilação ou destruição destas. Alteridade seria, portanto, a capacidade de conviver com o diferente, de se proporcionar um olhar interior a partir das diferenças. Significa que eu reconheço o outro em mim mesmo, também como sujeito aos mesmos direitos que eu, de iguais direitos para todos, o que também gera deveres e responsabilidades, ingredientes da cidadania plena. Desta constatação das diferenças é que gera a alteridade, alavanca da solidariedade, da responsabilidade, eixo da cidadania.
A época das descobertas é caracterizada por uma forte integração religiosa: o descobridor da América pensava de fato na possibilidade de utilizar o ouro americano numa eventual "Cruzada" contra o "Infiel". Esta religiosidade mostra-se de forma evidente lá onde Colombo assume as características daquele que realizava a profecia, subtraindo-se à atitude empirista de quem procura conhecer, e subordinando-se, pelo contrário, ao argumento de autoridade que repousa sobre verdades preestabelecidas. A mesma descoberta representa, então, a realização da vontade divina preanunciada pelas profecias. É assim que, trazendo consigo a bagagem conceitual própria do Ocidente, e aplicando-a ao novo âmbito cultural, ele determina, exemplarmente, o comportamento próprio de navegantes, conquistadores, missionários e colonizadores que o seguirão. (Pg 29)
Colombo determinava a fundação de um universo cultural que condicionou por muito tempo o Ocidente. Via os habitantes das Grandes Antilhas como "necessitados de tudo". Mas com o fato de reconhecer aos índios uma humanidade suscetível de civilização, tanto mais urgente quanto mais eram carentes de bens culturais por um lado, ou submissos a uma civilização distorcida por outro, o europeu era chamado a uma obra de "recuperação cultural" do selvagem. Os ameríndios, cedendo os bens de que a Europa tem tanta necessidade, obterão em troca uma progressiva promoção cultural e a integração política. (Pg. 40-43)
Segundo o autor O maior obstáculo as missões no Novo Mundo eram criadas pelos próprios colonizadores, com seu tratamento cruel e desumano para com os nativos. Bartolomeu de Las Casas lutava para resguardar a liberdade e a integridade dos índios, estes continuavam a sofrer todo o tipo de desumanidade por parte dos colonizadores, que se utilizavam de meios para oprimir e escravizar, embora que tenha demorado a reconhecer e admitir este problema, tornou-se o maior defensor dos índios durante o período colonial espanhol. (Pg 42)
Com Bartolomeu de Las Casas, o Patrono das Nações Indígenas, nascerá o conceito dos direitos humanos como direitos universais. E da mestiçagem racial e cultural nascerá uma cultura religiosa sincrética (os ídolos atrás dos altares). Cultura o assombro, da ironia, da paciência, da memória e do rancor às vezes, da humildade mais generosa outras vezes, da criatividade mais novidadeira e imperiosa sempre. Supre os abismos da utopia do Novo Mundo. (Pg 44)
Las Casas nasceu em Servilha, na Espanha em 1484 , e era filho de um mercador que viajara com Colombo em sua segunda viagem. Depois de licenciar-se em Leis na Universidade de Salamanca, viajou para a ilha de Espanhola para servir como Conselheiro legal do Governador. Adaptou-se rapidamente ao estilo de vida influente dos colonizadores, aceitando o ponto de vista convencional quanto à população indígena.
Provavelmente em torno de 1514, Las Casas sofreu uma transformação espiritual tal, que pediu para ser ordenado, tornando-se então no primeiro sacerdote a ser ordenado na América. Se interiormente ele havia mudado muito, exteriormente mudou muito pouco até então, porque aceitava com facilidade o estilo de vida que caracterizava a maioria do clero. Aos poucos foi entendendo que o tratamento dado aos índios não correspondia aos preceitos cristãos e por ocasião do Pentecostes, teve finalmente uma verdadeira conversão com relação ao tratamento que afligia os indígenas, porque deduziu que a fé cristã era radicalmente incompatível com o modo desumano pelo qual os espanhóis tratavam os índios. A partir desta concepção juntou-se aos dominicanos, onde encontrou apoio para o seu ponto de vista.
Para defender os índios no Novo Mundo, Las Casas viajou várias vezes a Espanha, apelando em favor dos índios aos oficiais do governo e a todos que quisessem ouvir. Ele tinha o evangelismo como prioridade e com este propósito viajou pela América Central fazendo um trabalho pioneiro.
Sua luta pelos direitos humanos continuou viva na Espanha até sua morte que se verificou cerca de duas décadas após seu retorno. Na Espanha corrigiu e publicou seus escritos, em que se opunha à política colonial Espanhola, e até hoje seu nome é lembrado como um dos maiores humanistas e missionários da história do cristianismo. Contudo suas idéias foram contestados tanto no Peru em 1552 quanto na Espanha. Alguns anos mais tarde e no meado do século seguinte a Inquisição proibiu a leitura de suas obras. Os inimigos de Las Casas se alegravam ao verem fracassar os seus métodos pacíficos de tratar com os indígenas, porque dizia que “os habitantes originais das terras eram gente afável e generosa, que facilmente seria ganha mediante um bom exemplo e amor”.
O que estamos discutindo aqui é de grande importância para vida da Igreja na América Latina, suas raízes, suas lutas, a ética do reino. Temos uma resposta para uma questão de ética e cidadania.
Prof. Antonio José do Nascimento prestou um valioso serviço a Igreja e a sociedade na América Latina, provendo novamente as questões relacionadas a colonização da América. É um grande trabalho de Ética e Cidadania, bem como a história teológica da América Latina. É bem provável que se torne um texto padrão para seminários tanto evangélicos como católicos, tornando muito útil na igreja como foi na sala de aula.

[*] Ashbell Simonton Rédua, é aluno do Curso de Validação em Teologia, oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

04 dezembro 2006

O mal que habita em mim

RESENHA
Ashbell Simonton Rédua[1]


LUNDGAARD, Kris. O mal que habita em mim: uma conversa franca sobre o poder e a derrota do pecado. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, 159 p.


Kris Lundgaard anteriormente um estudante do Seminary Theological Jackson, aprendeu em um curso ministrado pelo professor visitante J.I.Packer, sobre a vida e os escritos de John Owen. Em 1998 escreveu este livro que traduzido para o português, obteve o título de “o mal que habita em mim” que é uma restauração contemporânea dos trabalhos de John Owen “The Mortication Of Sin (A Mortificação do Pecado)”.
Lundgaard é atualmente gerente de uma loja de computador. Foi um grande contribuir da Teologia Puritana, dando o melhor que tinha de John Owen. Hoje com 47 anos de idade, vive com sua esposa Paula desde 1978 quando casaram, sendo agraciados por Deus com quatro crianças notáveis. Tem servido a Church Presbyterian of Redeemer em Austin, ensinando algumas vezes em uma das classes da Escola Dominical.
A maioria prefere se entregar ao pecado ao invés optar pela dolorosa obra de tomar a sua cruz e nela pregar a sua carne. Kris Lundgaard retrata neste livro a visão puritana de como Deus trata o pecado. Baseado em John Owen, pregador puritano nascido em 1616, é um dos grandes estudiosos das Escrituras que sempre ensinou sobre a importância de lutar contra tendências e atitudes pecaminosas. Acreditava que Deus já nos deu as armas necessárias para vencer o pecado: os princípios da Palavra e o poder do Espírito Santo.
O Livro é apresentado de forma simples e de fácil compreensão, com designe de capa bem elaborado, dando a idéia ter sido manchada na parte central e nas bordas com a cor negra, assim como mancha o pecado na vida do homem.
As notas explicativas e bibliográficas são apresentadas no final do livro, bem como vários comentários, de ilustres teólogos como: J.I. Packer, do Regente College, Jerry Bridges, do The Vavigators, Richard L. Pratt, Jr, do Reformed Theological Seminary, Steve Brown, do REformed Theological Seminary, Steven J. Lawson, Pastor, Dauphin Way Baptist Church e Bryan Chapell, President, Covernant Theological Seminary. Todas indiscutivelmente apreciaram a importância do tema desenvolvido pelo autor.
O livro está dividido em quatro partes, totalizando 13 capítulos. No final de cada capítulo contém algumas questões para reflexão e estudo, levando o leitor a confrontar as suas convicções com o tema apresentado.
Na primeira parte Lundgaard expõe de modo claro a natureza pecaminosa que habita no crente e a necessidade do reconhecimento deste mostro (inimigo), travando definitivamente a batalha contra o pecado.
Por causa da depravação humana - nossa natureza pecaminosa - nosso comportamento é bem previsível e aqueles que estudam essas coisas aprenderam que, sob certas circunstâncias, as probabilidades são muito altas e que a maioria reagirá de um mesmo modo.
As Escrituras é muito clara sobre a condição da natureza humana caída. É má, muito má e, deixada a si própria, levaria toda a raça humana à morte e à destruição. Tudo o que precisamos fazer é olhar ao redor no mundo de hoje, e podemos ver, em todos os lugares, os resultados do que nossa natureza caída fez: guerra, terrorismo, vício, exploração, prostituição, crime, e por aí vai. Unicamente pela graça de Deus não nos destruímos a nós mesmo.
Que diremos então?" A lei é pecaminosa?". Se a lei aumenta o nosso desejo de pecar, é má? Paulo diz, "Claro que não! Contudo, eu não teria sabido o que era o pecado se não fosse pela lei."A lei revela o que é o pecado” (Romanos 3:20), e esse é um conhecimento perigoso.
Mas a relação entre lei e pecado é mais do que simplesmente dar informações, a lei, ao definir o pecado, disse à sua natureza pecaminosa como pecar mais. A nossa natureza pecaminosa quer violar leis. Se lhe derem uma regra, ela quer quebrá-la. Por isso a lei, ao proibir determinadas coisas, fez com que os homens mais as praticasse, devido à sua natureza perversa.
A lei não é o problema - mas é que é tão facilmente pirateada pelos desejos pecaminosos. A lei não fez com que déssemos um passo errado - só nos disse onde acabaríamos se o déssemos, e a perversidade dentro de nós fez-nos dar o passo errado. O pecado enganou e colocou o homem no caminho para a morte.
A lei não é o culpado - foi um cúmplice sem querer. A lei causou a minha morte? É claro que não. Os criminosos não podem culpar a lei pelo que fazem. Pelo contrário, a lei só nos diz o resultado do que fizemos.
A lei é boa, mas o pecado seqüestra-à e usa-a para trazer morte. Deus permitiu isto para que víssemos como o pecado é terrível.
No crente há a velha natureza, a natureza pecaminosa,, e há a nova natureza, a natureza espiritual, em Cristo. A nova natureza é escrava de Cristo, mas a natureza pecaminosa ainda é escrava do pecado, e estão ambas ativas. Ser libertado do pecado e escravizado pela virtude não é automático - envolve uma luta. A mente humana, conduzida pelo Espírito Santo, guerreia contra o seu corpo, que foi sequestrado pelo pecado. Embora queira fazer o bem, o mal dentro de nós por vezes obriga-nos a fazer coisas que odeiamos. Por isso o homem espiritual geme, como diz em Romanos 8:23, aguardando pela redenção do seu corpo, a ressurreição e derradeira vitória sobre a sua natureza pecaminosa.
Na segunda parte Lundgaard expõe como o pecado age no crente, se disfarça e seduz, induzindo-o a buscar uma santificação hipócrita, isto é falsa, pecados sempre justificáveis, embora racionalizados inteligentemente. É como se tudo fosse de ninguém, de tal modo que "res nullus fiunt primi occupantis", em outras palavras: em outras palavras: "eu ocupo, logo é meu; e em sendo meu faço o que bem entendo... não importando que eu não entenda o que e como deva ser moralmente entendido de minha parte", é na fraqueza da mente onde ele é facilmente fisgado.
A história está recheada de exemplos de todos os tamanhos e, de certa maneira, justificam teorias de que as contendas e as guerras partem de íntima motivação pecaminosa, ou seja: "eu quero aquilo, custe o que custar". Neste caso – como, aliás, em outros tão ou mais abrangente é difícil de aferir e é facilmente fantasiável.
A natureza pecaminosa quer que acreditemos que um “pecadinho” não é tão grave assim, que não fará tanto mal. Mas o pecado sempre mancha tudo o que toca. Parte da sedução do pecado é fazer com que fiquemos cegos às suas conseqüências. Se pudermos parar e pensar no que isso pode causar nas nossas vidas, nas nossas famílias, no nosso ministério e na nossa igreja, poderemos encontrar no Senhor a força para enfrentar a mentira do pecado com a verdade das Escrituras Sagradas.
Quando o homem vive uma vida depravada, imoral! A natureza pecaminosa levam desprezo a Deus descaradamente pecando levianamente e continuamente, guardando nos corações pensamentos sujos ou de ódio durante anos.
Na terceira parte, o pecado é demonstrado na sua capacidade de apagar o primeiro amor. A natureza pecaminosa, que rouba a honra e a glória do Senhor Deus, impedindo o homem de reconhecer o Senhorio de Jesus Cristo. Para alcançar seu objetivo ele lança mão de toda sorte de enganos e mentiras. O pecado é como um câncer. Ele destrói a comunhão do homem e Deus e além de tudo é a condição pecaminosa do homem que impede que entendamos o amor a Deus.
O pensamento, essa importante faculdade da alma foi destituída da sua glória original, e coberta de confusão. Tanto a mente como a consciência estão corrompidas.
Os sentimentos do homem natural estão miseravelmente deformados, ele é um monstro espiritual. O seu coração se encontra onde deveriam estar os seus pés, seguro ao chão; seus calcanhares estão levantados contra os Céus, para onde deveria estar posto o seu coração
Na quarta parte, é demonstrada toda a esperança que devemos ter em uma vida de vitória contra o pecado e contra a carne.
O objetivo de Lundgaard é responder à seguinte pergunta: “Se Deus me redimiu do pecado e me deu seu Santo Espírito para me santificar e me dar forças contra o pecado, por que eu continuo a pecar?
Lundgaard descreve a visão Puritana sobre como viver uma vida santificada. Pouco do que eles pregaram e escreveram contém qualquer coisa única ou nova, comparada com sua herança doutrinária. O que é especial sobre a visão Puritana da santidade é sua plenitude e equilíbrio, em vez da sua forma distinta. Voltar-se do pecado, o arrependimento, e isto é uma atividade para toda a vida. Nós devemos nos arrepender todos os dias de nossas vidas, e à medida que assim fazemos, devemos também voltar para a retidão. Os pecados internos operam de dentro para fora, enquanto o mundo exerce a pressão ímpia de fora para dentro. Assim, embora uma pessoa conquistada pelo Espírito Santo busque expandir e ganhar a santificação, o diabo junto com o mundo e a velha natureza humana, forma uma frente de batalha na alma. Uma guerra espiritual.
A obra de Lundgaard é uma obra ímpar ao tratar do tema pecado. O autor consegue ser profundamente bíblico e teológico e ser prático sem o risco do pragmatismo de nossos dias.
Estes elementos presentes na obra são o que a tornam tão relevante a nossa Igreja. Com base na Teologia Puritana de John Ower, nossa herança teológica. O autor não ensina um caminho fácil de santificação, como é popular na Teologia da Pós-modernidade, mas um caminho onde o cristão confrontará diariamente com a carne, o mundo e o pecado, que continuam agindo em sua própria vida. Lundgaard parte do princípio de que agradar a Deus é a maior vocação do cristão. Porém, há obstáculos no caminho de viver para o agrado de Deus. Precisamos de ajuda para superá-los, ajuda que é encontrada em Deus e na operação eficaz do Espírito Santo em nossa vida.
O livro é um guia prático para a vida cristã. Não é uma obra acadêmica, mas uma tentativa de ajudar o crente na luta contra o pecado.
Portanto recomendo a leitura com a oração de que o leitor também seja influenciado como eu fui e Deus pela sua graça faça ao leitor o mesmo que fez e que tem feito a mim.


[*] Ashbell Simonton Rédua, é aluno do Curso de Validação em Teologia, oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

A Inter-Relação da Teologia com a Pedagogia no Pensamento de Comenius

RESENHA
Ashbell Simonton Rédua[1]

LOPES, Edson Pereira. A inter-relação da teologia com a pedagogia no pensamento de Comenius. São Paulo: Mackenzie, 2006. 309 p.


Prof. Edson Pereira Lopes, é um dos especialistas na interdisciplinaridade entre a Teologia e a Pedagogia nas obras de Comenius. Possui graduação em Filosofia pela Faculdades Associadas do Ipiranga (1998) , graduação em Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da Conceição (1992) , especialização em Estudos Brasileiros pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1999) , mestrado em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2001) e doutorado em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo (2004) . Atualmente é professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com grande experiência na área de Ciência Política. É autor do livro O Conceito de Teologia e Pedagogia da Didática Magna de Comenius, publicado pela Editora Mackenzie, no qual analisa a principal obra de João Amós Comenius, a Didática Magna.
Neste trabalho o Prof. Edson Pereira Lopes demonstra que para a compreensão do conceito comeniano de educação é fundamental ter como pressuposto a relação mútua da teologia com a pedagogia, visto que essas ciências constituem-se a base de seu pensamento.
A obra está divida em cinco capítulos com dezessete subtítulos, mais prefácio, introdução e considerações finais. No primeiro capítulo, o autor fala das influências culturais que marcaram o pensamento de Comenius. Três fontes destaca o Prof. Edson: a renascença, os utopistas pedagógicos e a influência religiosa. Segundo ele, os conflitos devem ocupar o centro da experiência pedagógica emancipatória. É preciso vulnerabilizar e desestabilizar os
modelos da epistemologia dominante, fazendo uma hermenêutica no sentido de um resgate do sofrimento humano. É preciso produzir imagens desestabilizadoras para produzir indignação, rebeldia e inconformismo. Por isso, conhecer os conflitos históricos que geraram rupturas epistemológicas educacionais constitui-se em importante contribuição para iluminar nossa caminhada hoje.
Comenius teve importante contribuição e influência nos processos de formação, educação e pesquisa no período em que a sociedade ocidental passou do feudalismo para o modo de produção capitalista. Sua obra está ajustada ao seu tempo, dando respostas ao que o novo demandava.
Tanto suas obras pedagógicas quanto suas obras como reformador social podem, através de uma releitura, iluminar nossas necessidades de pedagogias do conflito. Sua utopia de ensinar tudo a todos, numa proposta essencialmente comunitária e participativa, pode ser fonte para a reconstrução de utopias para nossos dias.
O segundo capítulo: O Contexto histórico e a produção literária de Comenius, o autor retrata os aspectos históricos dividindo o capítulo em partes: A Moravia no limiar do século XVIII, a proposta educacional dos Irmãos Morávios e a vida e a produção literária de Comenius. A obra de Comenius é um dos patrimônios mais importantes da história da pedagogia ocidental. Sua vida, sua história, sua produção de conhecimentos, suas obras se desenrolaram na Europa central, na Morávia, no Reino da Boêmia, mais tarde Tchecoslováquia, hoje República Tcheca e Eslováquia. Comenius nasceu em 28 de março de 1592, na cidade de Uherskí Brod, filho de moleiro, oriundo de Komna, da região eslava. Mencionar estas cidades e regiões tem importância, pois elas são o centro de uma tensão político-social-religiosa da época. Lá surgiu um dos principais movimentos religiosos de contestação conhecido como Movimento Hussita, dos primórdios do século XV, liderado por João Hus. Comenius é filho dessa tradição protestante da Boêmia que contestou os abusos da Igreja e do Estado que mantinham a população dominada pelo medo e pela mentira. Esta religiosidade expressou-se em diferentes comunidades confessionais. Uma das principais foi a Unitas Fratrum, ou Comunidade dos Irmãos Morávios. Ela caracterizava-se pela pureza cristã dos costumes, fervor religioso, fraternidade entre seus integrantes. Essa comunidade buscava fortemente sua unidade, investindo num desenvolvimento educacional que atingisse todas as crianças, meninos e meninas, e todos os adultos, homens e mulheres.
O terceiro capítulo com o título de: “Os pressupostos teológicos de Comenius na didática magna”, apresentando com oito sessões subtemáticas. O Prof. :Edson neste capítulo retrata: o texto bíblico como escrito sagrado, o Ser divino, a gênese de todas as coisas – uma apologia criacionista, a concepção antropológico-teológica – o homem como microcosmo, Soteriologia comeniana, os princípios morais propostos por Comenius, a piedade cristã na concepção de Comenius e os pressupostos escatológicos de Comenius.
Neste capítulo, o Prof. Edson buscou-se avaliar o quanto a concepção teológica-pedagógica do Pai da Pedagogia Moderna, embasou sua principal obra, a Didática Magna. Comenius preocupou-se, ao escrever essa obra, em partir de sua concepção teológica do homem, ou seja, o homem como imagem e semelhança de Deus. Para Comenius, três eram os princípios que norteavam a formação do indivíduo, voltado para a sua função de glorificador de Deus: a instrução; a moral e a piedade. Desses princípios, a piedade deve ser exaltada, pois é por meio dela que o homem será conduzido ao Criador.
Objetivando a aproximação do homem a Deus, o objetivo central da educação para Comenius era tornar os homens bons cristãos - sábios no pensamento, dotados de verdadeira fé, capazes de praticar ações virtuosas estendendo-se a todos: ricos, pobres, mulheres, portadores de deficiências. Para ele, a didática é, ao mesmo tempo, processo e tratado: é tanto o ato de ensinar quanto a arte de ensinar.
Sua maior contribuição foi a Didática Magna, qual faz com que receba o título de pai da didática moderna. Resolvendo um problema de seu tempo o método, ele articula o método que é “ensinar a todos” com o objetivo central de formar o bom cristão na sabedoria, temor e fé em Deus e na piedade com práticas virtuosas se estendendo aos ricos, pobres, deficientes e mulheres.
A máxima do ideal de Comenius foi o desejo de ensinar tudo a todos e essa necessidade se sustentava na crença de que Deus, em sua infinita bondade colocava a redenção ao alcance dos seres humanos, portanto convinha educa-los corretamente, porque negar a educação ao homem é ofender ao próprio Deus e essa educação é interdisciplinar observando que quanto mais o indivíduo conhece a si mesmo, conhece as coisas de Deus.
O quarto capítulo desenvolvido pelo autor é: os pressupostos pedagógicos de Comenius na didática magna, também divido em três sessões, a saber: o método comeniano, a organização escolar e a organização escolar pansófica.
Comenius diz também que a educação deve ser aplicada a todos. Nas escolas, devem-se admitir não só os filhos dos ricos e dos próceres, mas todos, por igual, nobres e plebeus, ricos e pobres, meninos e meninas, os quais devem ser educados conjuntamente no mesmo estabelecimento. Com isso, Comenius se adiantou no seu tempo e antecipou a idéia da escola democrática unificada.
Comenius é o primeiro educador, no mundo ocidental, a interessar-se na relação ensino/aprendizagem, levando em conta haver diferença entre o ensinar e o aprender.
Salientava a importância da educação formal de crianças pequenas e preconizou a criação de escolas maternais, pois assim as crianças teriam, desde muito cedo, a oportunidade de adquirir as noções elementares do que deveriam aprender mais tarde, com profundidade.
Defendia a tese de que a educação deve começar pelos sentidos, pois as experiências sensoriais obtidas através dos objetos seriam internalizadas e, mais tarde, interpretadas pela razão. Compreensão, retenção e práticas consistiam a base de seu método didático e, por meio desses elementos, chegar-se-ia às três qualidades: erudição, virtude e religião, correspondendo às três faculdades que é preciso ter: intelecto, vontade e memória.
O alvo da escola é a formação de homens críticos e ativos na sociedade, homens que saibam conciliar sabedoria e conhecimento em suas ações. Compreendemos que só podemos atingir este ideal a partir de Deus, pois dEle provém toda boa dádiva, toda a perfeita sabedoria. Compreendendo que somente em Seu Filho encontramos todos os mistérios e toda a ciência, pois foi Ele quem tudo sabiamente criou.
O último capítulo, a inter-relação da teologia com a pedagogia da didática magna, vemos então que Comenius visava relacionar sua fé cristã reformada com a realidade e os estudos da educação.
Prof. Edson prestou um valioso serviço a educação reformada, a teologia reformada, provendo novamente as questões relacionadas a teologia e pedagogia de Comenius. É um grande trabalho na história teológica e educação reformada. É bem provável que se torne um texto padrão para as faculdades de educação tanto evangélicas como seculares, tornando muito útil na igreja como tem sino na sala de aula.

[1] Ashbell Simonton Rédua, é aluno do Curso de Validação em Teologia, oferecido pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.

21 outubro 2006

Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo


RESENHA
Ashbell Simonton Rédua*


COSTA, Hermisten Maia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São Paulo: Parákletos, 2002, 479 p.

Um credo é uma elaboração científica daquilo que cremos com base na Escritura Sagrada. definição de uma confissão não difere basicamente da de um credo, senão na forma.
Uma confissão contém mais ou menos os mesmos elementos de um credo, mas de forma bem mais elaborada, com detalhes que um credo não possui, por ser mais conciso. Uma confissão aborda mais assuntos do que um credo, e os apresenta de forma mais sistemática.
Um credo sempre começa como credo ou credemus ("eu creio" ou "nós cremos"), enquanto que as confissões geralmente não possuem essa característica.
Um credo ou confissão, pelo menos dentro da teologia reformada, não é um sistema de doutrina absolutamente fechado que não possa ser alterado com o desenvolvimento sério dos estudos sobre uma determinada matéria.
O que cremos hoje tem que refletir a fé dos nossos antepassados. Devemos diferir deles naquilo em que eles não foram absolutamente justos com o ensino geral das Santas Escrituras, mas onde estiveram certos, devemos seguir com eles.
É essencial que os crentes entendam a necessidade de confessar a sua fé (Mt 10:32; Rm 10:9). Confessamos a nossa fé no batismo, na Ceia do Senhor, ao testificar aos incrédulos, ao dar bom testemunho na vida pública e privada, e ao recitar o Credo no culto de adoração.
Toda confissão pública da fé deve ser feita com sinceridade, e deve vir acompanhada de uma vida de compromisso com os valores do reino de Deus.
A partir do credo/confissão o autor formulou uma posição conclusiva do dogma da Trindade.
O autor entra na discussão de forma detalhada quanto a cada pessoa da Trindade, confessa a fé em um Deus Trino. O texto está claramente dividido em três partes: O Pai e a nossa criação, o Filho e a nossa redenção, o Espírito Santo é a nossa santificação. Deve ser notado que a parte referida do autor ao Filho é a mais detalhada. A primeira vista, pareceria que a seção que fala do Espírito Santo foi a menos informativa, mas a verdade é que a Igreja é vista em íntima relação com a obra do Pai, do Filho e do Espírito Santo.
Entendo que se o livro fosse também transformado em Lições para discipulado ou Escola Bíblica Dominical poderia alcançar um número maior de leitores, isto porque a leitura é simples, de fácil compreensão e uma agradável assimilação.
* Ashbell Simonton Rédua, é pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai, em Niteroi.

18 maio 2006

HISTÓRIA DO PENSAMENTO CRISTÃO


RESENHA
Rev. Ashbell Simonton Rédua*

TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. Tradução de Jaci Maraschin. São Paulo: ASTE, 1988
O Cristianismo é em sua essência uma experiência transcende ao nível da materialidade humana, uma experiência que acontece em todos os tempos e em todas as situações e é em si mesmo independente.
O cristianismo é portador de poder e oferece à humanidade uma mensagem de vida, de conhecimento e de verdade, tanto para a pessoa como para a sociedade.
Assim o cristianismo é um movimento que parte do particular para o geral, do interior para o exterior, apropriando-se de formas culturais ou simplesmente passando ao largo delas. Na verdade, ele dá forma às expressões culturais e, concomitantemente, toma novas formas a partir delas. Dessa maneira o cristianismo está ligado à interpretação de formas de consciência filosófica, à experiência estética e ao ideal ético de pessoalidade, e, logicamente, aos grandes modelos sociais e econômicos.
O pensamento de Tillich está marcado por uma forma de entender o mundo a partir de um fundamento que determina o comportamento, as formas de racionalidade, pensamento e entendimento, dando conteúdos e limites à noções amplas como lei, democracia, justiça, ética, perdão, sexualidade, etc.
É evidente no seu pensamento que a dúvida deve fazer parte constante da fé cristã. A ausência de dúvida não significa uma fé sólida como costumamos imaginar, mas ao contrário, ela pode tornar-se dogmática, violenta e até mesmo idólatra se ela se solidificar mais nos jeitos (teologias) de acreditar em Deus do que naquilo que se acredita (Deus), isto foi vivenciado nos Concílios da Igreja.
A idéia base é de que a história do pensamento cristão se elabora a partir de quatro elementos díspares, que deve seguir, cada um deles, a sua própria lógica, a saber: fé, revelação, Escritura e experiência religiosa, que Tillich coloca sob o tópico de "símbolos religiosos". O pensamento histórico da teologia não é senão um esforço de interpretação conjunta do que se aufere da interpretação de cada um desses elementos, portanto, seu método é, em última análise, um método de correlação. De fato, o método de conhecer o pensamento teológico é um método de correlação, alcançando um resultado para o qual convergem todos os quatro elementos.
A clareza com que são expostas e resolvidas as grandes questões do método em teologia recomenda o estudo da obra a todos que se empenham nas reflexões religiosas a partir da fé, ou mesmo, na perspectiva hoje muito significativa, do fenômeno religioso em sua generalidade.

* Rev. Ashbell Simonton Rédua é Pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai e Membro da Comissão Nacional de Evangelização da IPB

Contexto Histórico de Comenius: A Reforma Protestante do Século XVI.


RESUMO
Rev. Ashbell Simonton Rédua*
LOPES, Edson Pereira. Contexto Histórico de Comenius: A Reforma Protestante do Século XVI. In, O Conceito de teologia e pedagogia na Didática Magna de Comenius. Série Descoberta, I. São Paulo: Mackenzie, 2003.

Comenius conhecia bem as doutrinas que, sobre a educação, haviam professado Lutero e Melanchton, bem como as idéias de reformas do sistema pedagógico medieval, preconizadas por outros precursores anunciada desde a aurora do século XVI. Com a Reforma Protestante, quando se defendiam a educação universal e pública, capaz de tornar cada pessoa apta a ler e interpretar por si mesma a Bíblia. Lutero produziu uma reforma global do sistema de ensino alemão, que inaugurou a escola moderna, sempre havia pregado contra as indulgências, mas o que o levou a realizar um protesto público, em 1517, que oferecia privilégios específicos. Contra ela, elaborou 95 teses, criticando as práticas eclesiásticas, e afixou-as na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg. Tão importante quanto Lutero para a educação foi Philipp Melanchthon. Durante o período que Lutero passou impedido de se manifestar publicamente, Melanchthon foi o porta-voz da causa reformista e um dos encarregados de reorganizar as igrejas dos principados que haviam aderido ao luteranismo. Esse trabalho resultou no projeto de criação de um sistema de escolas públicas. A reforma da instrução era uma das principais reivindicações das camadas mais pobres da população, insatisfeitas com as más condições de vida e com o ensino escasso e ineficaz oferecido pela Igreja. Para isso, foi criado um sistema que atendia tanto à finalidade de preparar para o trabalho quanto à possibilidade de prosseguir os estudos para elevação cultural. O currículo era fortemente baseado nas ciências humanas, atribuindo importante função formadora ao estudo da história. João Calvino, foi um homem que modificou o mundo à sua volta, deixando as marcas de seu pensamento, lógico e de sua grande erudição. A sua Instituição da Religião Cristã, conforme ele mesmo afirmou, era um manual para facilitar a compreensão da Bíblia. A função de doutor foi criada dentro da igreja para que o ensino da verdadeira doutrina fosse ministrada e com a criação da Academia de Genebra em 1559, desenvolveu um programa de ensino unificado de nível primário, secundário e universitário coroando de êxito seu trabalho de teólogo, que reconhecia na educação a ferramenta fundamental para o sucesso de sua fé. Sem dúvida nenhuma Calvino foi um grande educador e lutou com todas as suas forças para que o crente, apto a examinar as Escrituras, por meio da educação recebida na escola, esperasse na fé das promessas ali contidas, sua salvação.
Palavras-chave: Fundamentos da Educação, Lutero, Melanchton, João Calvino, Calvinismo, Reforma Protestante Século XVI.
*Rev. Ashbell Simonton Rédua é Vice Presidente da Aliança Protestante Nacional e Pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai

Vida e obra de Comenius: A Reforma Protestante do Século XVI


RESENHA
Rev. Ashbell Simonton Rédua*

LOPES, Edson Pereira. Vida e obra de Comenius: A Reforma Protestante do Século XVI. In, O Conceito de teologia e pedagogia na Didática Magna de Comenius. Série Descoberta, I. São Paulo: Mackenzie, 2003.

Comenius (1592 - 1670) foi o fundador da didática e, em grande parte, da pedagogia moderna. A obra pedagógica essencial de Comenius é Didactica Magna (1667), que permaneceu ignorada até o séc. XIX. Nessa obra, Comenius elaborou uma proposta de reforma da escola e do ensino e lançou as bases de uma nova pedagogia que prioriza a arte de ensinar por ele denominada didática: empreendeu um programa intenso de transformação fundamental dos programas e métodos de ensino; propôs-se a elaborar um método universal para ensinar de tudo a todos, aproximou-se da criança de modo incomparavelmente mais marcante do que qualquer um de seus predecessores ou contemporâneos.
Comenius introduziu no cenário pedagógico a ênfase aos meios, secundarizando o que até então tinha sido fundamental, a formação do homem ideal.
Nascido na região da Moravia, na atual República Tcheca, Europa, em 28 de março de 1592, era de família eslava e praticante do protestantismo. Sua família seguia a costumes dos Irmãos Morávios, grupo religioso inspirado nas idéias do reformista Jan Huss, da Bohemia e estreitamente ligado às Sagradas Escrituras e defensores de uma vida humilde, simples e sem ostentações. Essa educação rígida e piedosa exerceu grande influência sobre o espírito de Comenius, influenciando sua vocação para os estudos teológicos.
Tendo perdido seus pais e irmãs aos 12 anos, foi cuidado sem muito carinho por uma família de seguidores do seguimento religioso dos Morávios, e, sua educação básica não fugiu aos padrões da época: saber ler, escrever e contar, ensinamentos aprendidos num ambiente escolar rígido, sombrio, onde a figura do professor imperava e as crianças tratadas como pequenos adultos e os conteúdos escolares infalíveis e inquestionáveis.
O rigor da escola e a falta de carinho familiar marcaram a vida do órfão Comenius a ponto de inspirar, certamente, os princípios de uma didática que pode ser considerada revolucionária para a época, o século XVII.
Ao terminar os estudos secundários, ingressa na Universidade Calvinista de Herbron, região da Alemanha, onde estuda Teologia. Adquire boa formação cultural, e uma vasta cultura enciclopédica; estreita seus laços com a religião e torna-se pastor, tendo ainda, enquanto estudante, iniciado a produção de suas primeiras obras.
Segue para Heidelberg, região da Alemanha, onde aprimora seus estudos de astronomia e matemática, retornando à Moravia, sua região natal, e se estabelece em Prerov atuando no magistério, ansioso em colocar em prática as idéias pedagógicas trazidas da Universidade.
Em 1648, viúvo, doente e desprestigiado em sua comunidade, Comenius abandona a Polônia, estabelecendo-se em Amsterdã, cidade da Holanda, onde se casa novamente em 1649. Lá se restabelece e retorna o seu trabalho de educador e reformador social.
Prestigiado pelas autoridades holandesas, estas publicam todas as suas obras pedagógicas, muitas delas já famosas.
Comenius termina seus dias na Holanda, famoso, prestigiado e lutando, até a morte, pela fraternidade entre os povos e as igrejas.
Morre em 15 de novembro de 1670, tendo sido enterrado em Naarden, Holanda, onde foi construído um mausoléu em sua homenagem.
*Rev. Ashbell Simonton Pastor da Igreja Presbiteriana do Sinai e membro da Comissão Nacional de Evangelização.